Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
Merval Pereira é um homem crédulo. Digamos até que por sê-lo, o “imortal” é considerado pelos seus semelhantes um cidadão de inocência ímpar e de propósitos que fogem a razão e a compreensão dos seres mortais. O empregado e porta-voz da família Marinho é um virtuoso, de caráter inflexível e personalidade admirável para as pessoas que o leem e o ouvem. Somente por isto e por causa disto, Merval se dá ao luxo de acreditar na revista Veja, a revista porcaria e que enlameia a atividade de jornalismo e debocha da inteligência alheia.
Merval Pereira é assim: crédulo e virtuoso. É o seu jeito, e contra esta realidade nada pode ser feito, nada pode impedi-lo de ser tão perfeito e crédulo. O “imortal”, por exemplo, acredita na Veja e principalmente na reporcagem que é capa de revista tão séria e voltada ao jornalismo em prol dos interesses de cidadania do povo brasileiro. Ele acredita, sem ter qualquer dúvida, que o presidente mais popular da história do Brasil talvez seja um chefe do "mensalão" e que esta reporcagem da Veja poderá ter sequência e quiçá consequência para o fundador do PT e da CUT e que fez em apenas oito anos uma revolução silenciosa no Brasil.
Merval Pereira age dessa forma, por se tratar de um gênio, talvez incompreendido, do jornalismo, que somente não lidera as massas porque ele tem tédio, fastio, além de uma incomensurável preguiça para se meter com questões populares, como, por exemplo, permitir o acesso dos brasileiros menos premiados pela vida, como o Merval, à saúde, à educação, à segurança, à moradia, ao lazer, ao emprego, ao consumo, e, quiçá, sem exageros, a um pouquinho de felicidade.
Merval Pereira adorou a capa da Veja desta semana, com uma foto do Marcos Valério em um ambiente avermelhado, sombrio e demoníaco, pois o “mensalão” do PT é coisa do diabo e por isto a imprensa corporativa, comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) tem de rotineiramente denunciá-lo desde 2004, porque é o único “trunfo” que a direita herdeira dos escravos tem para fazer frente a governantes trabalhistas como Lula e Dilma, que tiraram da miséria e da pobreza mais de 30 milhões de brasileiros, além de não permitirem que a crise neoliberal dos europeus e dos estadunidenses e do FHC, que foi três vezes ao FMI pedir esmolas de joelhos e com o pires na mão prejudicasse o projeto econômico do Brasil de crescer e garantir empregos à população brasileira, o que, sobremaneira, foi feito.
Merval Pereira deu a senha, e foi acompanhado por Ricardo Noblat, blogueiro e colunista de O Globo de alma tucana, e Cristiana Lôbo, uma das “meninas” do Jô, jornalista de perfil conservador e que, na verdade, sempre opina “em cima do muro” talvez para dar uma (falsa) impressão que ainda se mantém como uma profissional imparcial, o que, evidentemente, não convence nem a um recém-nascido. O trio “global” espera que a matéria pérfida e de má-fé da Veja, a revista emporcalhada, desdobre-se em diversas matérias, apesar de em suas páginas as declarações contra Lula, José Dirceu e outros membros do PT serem todas em off, sem explicitar os nomes dos entrevistados, que, de acordo com o pasquim de péssima qualidade, são amigos e parentes do publicitário considerado o gerente do “mensalão”. Lembro que o advogado de Marcos Valeiro negou ao Portal Terra que seu cliente tenha dado entrevista, bem como informou que ele não fala com a imprensa há sete anos.
Até hoje juridicamente e oficialmente tal “mensalão” não foi comprovado mesmo a ser denunciado pelo procurador geral da República e opositor do Governo, Roberto Gurgel, que prevaricou durante quase três anos sobre o escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus aliados do PSDB e do DEM, e que um dia poderá responder no Senado e no STF pelos seus atos. Muitos dos punidos e dos que ainda serão punidos (considero que José Dirceu vai ser considerado culpado) não tiveram observados — é o caso de Dirceu — a presunção de Inocência. Seria terrível para a democracia brasileira, que se baseia no estado democrático de direito, ter rasgada a sua Constituição, principalmente no que diz respeito aoseu artigo 5.°, inciso LVII: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".
A presunção da inocência é talvez a mais importante garantia constitucional. Se ela é desrespeitada, voltamos à barbárie. Acontece que José Dirceu foi cassado politicamente e por causa da pressão da mídia hegemônica e golpista sua cabeça foi oferecida pelo Câmara dos Deputados, pois se não conseguiram dar um golpe branco de estado em Lula em 2005, pelo menos momentaneamente matariam a sede de “sangue da imprensa burguesa que há dez anos tenta desconstruir a moral e a imagem do presidente Lula, que saiu às ruas naquele ano e evitou o golpe, porque a direita recuou. E isto é inadmissível e imperdoável para o baronato carcomido por suas ideias reacionárias e retrógadas e que tem um imensa nostalgia da ditadura militar.
Merval foi nomeado pela Globo na ABL e se comporta como um cafeicultor do século XIX. |
José Dirceu vai ser punido, porque não há condições e nem clima para absolvê-lo. Dirceu, juntamente com Lula, é o político brasileiro mais combatido pela oligarquia escravagista brasileira. Sofre um linchamento moral e sem direito à presunção da inocência há sete anos. Até o seu apartamento em hotel de Brasília foi invadido por repórter da revista bandida, que se deixou levar por sua índole duvidosa e mesmo assim até hoje não foi punido, apesar e eu não saber se ele foi processado, o que, sobremaneira, deveria acontecer. A presunção da inocência é uma prerrogativa conferida ao acusado e no Brasil do estado democrático de direito não está a ser respeitada, porque temos uma imprensa suja que distorce os fatos, mente sobre as realidades e, de tão audaciosa por saber de sua impunidade, tenta derrubar governantes constitucionalmente eleitos pela maioria do povo brasileiro. É o fim da picada.
E aí temos de aguentar o tal do Merval Pereira, que, do alto de sua pose pseudointelectual, deita falação e se nega a observar os fatos e os ditames constitucionais, por ele ser um dos porta-vozes de uma das seis famílias que controlam o sistema midiático privado e que tem a ousadia de fazer da vida brasileira uma novela terrível e de má qualidade, onde as pessoas são moídas moralmente sem ter o direito de se defender, porque a imprensa de negócios privados não se subordina à Constituição e ao Direito. A imprensa e as mídias não são regulamentadas, porque no Brasil não foi efetivado um marco regulatório para esse setor da economia, apesar de estar previsto na Constituição.
Merval Pereira é assim: acredita no que é injusto e se torna um algoz com a faculdade da prever que a reporcagem da Veja vai ter desdobramentos terríveis contra o Lula e muitos de seus alidados políticos. Para o Merval, a revista porcaria é completamente verossímil, e, portanto, uma ferramenta de combate aos governantes trabalhistas. Apesar do off...
Merval é o lobisomem de capa e de fardão.
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