O Fórum do Lalau, como ficou conhecido em todo Brasil é um prédio suntuoso. Todo em concreto e vidro e custou 169 milhões de reais.
Para os mais jovens, ou que não sabem, o desvio de dinheiro público na construção da obra levou o juiz responsável, Nicolau dos Santos Neto, à condenação em 2006: 26 anos, seis meses e vinte dias em regime fechado pelos crimes de peculato, estelionato e corrupção passiva.
Outro que não passou ileso foi o empresário responsável pela construção, o senador Luís Estevão. No ano 2000 ele foi o primeiro parlamentar daquela casa a ser cassado por quebra de decoro parlamentar.
O processo nº 2695/2009 da 43ª Vara do Trabalho de São Paulo trata de assuntos caros, caríssimos à maior emissora de TV do país.
O reclamante acusa a empresa de tê-lo feito vítima de assédio moral, contrangimento, intimidação, perseguição e cobra direitos autorais pela obra que produziu e que não é reconhecida como sendo sua.
Quando aceitei ser testemunha na ação, meu relato precisava apenas atestar que o colega exerceu, no período em que trabalhamos juntos, função idêntica a de outros profissionais que como nós dividíamos a mesma bancada de trabalho no Jornal da Globo, com Ana Paula Padrão.
Mas não imaginava que o negócio era tão grande assim, o que só vim a entender esta tarde.
Ao chegar à audiência encontro um batalhão de advogados (cinco) e algumas figuras carimbadas da redação de São Paulo, ávidas por testemunharem em favor do patrão. Minha primeira sensação foi de tristeza.
Afinal, somos colegas, profissionais, gente comum, mas em campos opostos. Um lado quer apenas confirmar fatos verídicos. O outro, embaralhar o juízo para que a empresa se beneficie de alguma forma.
Até entendo que a condição em que eles estão não permite muita escolha.
No entanto, cheguei a fantasiar se um deles, num arroubo de sinceridade, decidisse contar ao juiz tudo o que acontece naquela corporação, para pasmo de todos aqueles senhores engravatados.
Um dos chefes presentes, o segundo na hierarquia de São Paulo, (vou poupar os leitores de nomes porque afinal de contas, até que sejam alguma coisa por eles próprios, são meros serviçais) tecla em um tablet e vez ou outra consulta um smart phone.
As outras três testemunhas são todas da editoria de esportes.
Um ex-diretor, hoje encostado, um ex-chefe de redação, hoje humilhado e uma ex-estagiária, hoje com cargo de chefia, certamente ganhando a metade do que o colega que veio antes. A assimetria é gritante.
Pelo número de advogados e assessores e, principalmente, pela tecnologia a serviço de quem tem mais poder econômico. Nos seus brinquedos eletrônicos eles podiam consultar e obter resultados imediatos, de dentro da sala de audiência.
Enquanto esperávamos foi que descobri porque aquela causa é tão importante.
A tese do reclamante, se vingar, abre um precedente que pode acabar com um negócio que cresceu à base da multiplicação dos peixes. Funciona assim: o sujeito escreve um texto e edita um vt para o telejornal da noite. Ele é reexibido sem cortes e sem créditos nos três canais fechados da emissora, além de ser explorado ad aeternum, toda vez que alguém requisitar em arquivo.
Admira-me o Sindicato dos Jornalistas não se interessar por causa tão importante.
À força de trabalho intelectual cabe direitos autorais, que a emissora nega, mas faz questão de resguardar em todos os seus negócios, de cinema à novela, passando pelos telejornais.
A marca Globo custa um dinheirão, que eles sabem "precificar" direitinho.
Mas meu colega foi esperto. Durante o período em que foi molestado, colecionou pacientemente todos os casos, juntou escalas e convocações de trabalho, correios eletrônicos, cópias das correspondências entre chefes e subalternos e tem tudo para levar uma merecida bolada para casa, isto é, se justiça for feita.
do blog DoLaDoDeLá
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por respeitar este espaço livre e democrático e por comentar!