Via CartaCapital
Mauricio Dias
Em breve, como se espera, o Supremo Tribunal Federal, após o julgamento do chamado “mensalão petista”, se encarregará do Inquérito 3.530, conhecido, mas ainda não popularizado, como mensalão tucano, igualmente originado em Minas Gerais e até agora ainda sob a relatoria do ministro Joaquim Barbosa, que assumirá a presidência do STF em novembro, pelo princípio do rodízio.
Não se sabe se abrirá mão da tarefa. Provavelmente, sim.
O mensalão tucano, e não mineiro, como às vezes se diz e se escreve, ora por descuido e, principalmente, por má-fé, montado a partir de Belo Horizonte, em 1998, para a reeleição do então governador mineiro Eduardo Azeredo, está intimamente ligado ao processo eleitoral nacional e, por consequência, à reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Marcos Valério, o publicitário, ou operador financeiro, como é caracterizado, passou a ser o fio condutor de todo esse moderno processo de formação de caixa 2 que ainda norteou, em 2002, a primeira eleição de Aécio Neves para o governo de Minas Gerais.
O dinheiro gerado em Minas se espalhava pelo País.
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Valério era somente consultor financeiro quando se envolveu no processo de salvação da empresa de publicidade SMP&B. Por intermédio dele, o hoje senador Clésio Andrade aportou recursos na agência. Integrante, como vice, da chapa de Aécio Neves, ele repassou as ações para Valério numa operação cuja legalidade é discutida.
A sequência dessa história, que passa pela famosa Lista de Furnas, que a mídia tentou desqualificar, é conhecida e comprovada pelo advogado Dino Miraglia Filho, uma voz sem repercussão em Belo Horizonte.
Miraglia se ofereceu como assistente do Ministério Público na ação do mensalão tucano. Ele articula a esse processo a figura controvertida de Nilton Antônio Monteiro e a complexa história do assassinato de uma modelo que transitava com desenvoltura pelos caminhos abertos pela elite política e empresarial de Belo Horizonte.
Miraglia é um acusador implacável e que não usa meias palavras quando trata do que chama de “crimes de corrupção praticados pelos ocupantes do governo de Minas desde 1987 e que perduram até hoje”. Ele não sonega nomes: Eduardo Azeredo, hoje deputado, ex-governador de Minas, e Dimas Toledo, ex-presidente de Furnas, ambos envolvidos na construção de caixa 2 na campanha de Aécio Neves.
“Diante da robustez das provas e após perícias que comprovaram serem autênticos os documentos apresentados por Monteiro, o grupo criminoso montou um riquíssimo esquema jurídico e midiático para desacreditá-lo perante a opinião pública”, argumenta.
Miraglia tem em seu poder “muitos originais” aguardando a intimação do STF para depositar no cofre da secretaria, especialmente o documento aqui reproduzido parcialmente. Os tucanos, na ausência de barba, devem botar o bico de molho.
Andante Mosso

De Beccaria a Barbosa. Se mais severo que a lei, o juiz vira injusto. Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF
Recado
“E a partir do momento em que o juiz se faz mais severo do que a lei, ele se torna injusto.” (Do filósofo e jurista Marquês de Beccaria à meditação do ministro Joaquim Barbosa)
Erro de cálculo
O tucano José Serra sustentou duas semanas de fogo contra o petista Fernando Haddad, usando o “mensalão” como munição para ganhar a eleição municipal.
Foi o suficiente para perder a disputa com um tema que colou nele, de vez e para sempre, a imagem de que sempre disputou a prefeitura paulistana de olho na Presidência da República, em Brasília.
Se não se aposentar desta vez, só voltará à cena como candidato a deputado.
Agora vai…
As forças partidárias se salientam em torno da candidatura de Aécio Neves para a Presidência da República, em 2014. Cesar Maia, eleito vereador, afirmou que o DEM “fará aliança nacional em torno de Aécio Neves”.
Assim é possível dimensionar a base inicial de apoio e Neves entre os cariocas, a partir do desempenho de Rodrigo Maia à prefeitura em 2012. Obteve em torno de 100 mil dos cerca de 3 milhões e 300 mil votos válidos.
Aplica-se, no caso, o adágio: “Não é nada, não é nada, não é nada mesmo”.
O efeito da exceção
As características de “julgamento de exceção” do mensalão, impostas pela maioria do STF, como foi definido pela primeira vez nesta coluna por Wanderley Guilherme dos Santos, e o rigor tirânico das penas impostas aos réus podem reativar a força adormecida no PT: a militância.
Os petistas cresceram na adversidade e, de certa forma, se acomodaram e se incomodaram ao chegar ao poder. Ganharam um bom motivo para voltar às ruas.
O PMDB e o petróleo
Luiz Fernando Pezão, anunciado como candidato do PMDB ao governo do Rio, em 2014, pode ter de enfrentar um problema terrível na campanha.
A lei dos royalties, batizada por Sérgio Cabral como “covardia” com o estado que governa, tem um rastro claro de autoria: nasceu e cresceu alimentada pelos peemedebistas. Ibsen Pinheiro na Câmara e Pedro Simon no Senado.
Assim na terra…
Frase inquietante na traseira de uma van de transporte no Rio de Janeiro: “Bíblia sim, Constituição não”. É para onde empurraram a atividade política no Brasil. Sem lenço e sem direção Caetano Veloso votou em Marcelo Freixo (PSOL-RJ), apoiou ACM Neto (DEM-BA) e, se fosse eleitor em São Paulo, cravaria o nome de Fernando Haddad (PT).
Compositor de sensibilidade e de grande qualidade lírica, a cabeça dele, politicamente, é uma mixórdia.
Individualista, usa um método simplista de escolha: a simpatia pelo candidato. Assim, foge da raia e declara que não é de esquerda ou de direita. O establishment gosta muito de gente assim.
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Postes iluminados
Após ganhar a eleição presidencial com Dilma Rousseff e, confirmada a paulistana com Fernando Haddad, uma frase de Lula marcará as eleições de 2012: “É de poste em poste que o Brasil vai ficar iluminado”. Usada pelo ex-presidente, a metáfora (“poste”), que identifica candidatos sem qualquer experiência eleitoral, remete também para um segundo significado.
Trata-se do Programa Luz para Todos, criado em 2003, quando Dilma Rousseff comandava o Ministério de Minas e Energia. Em setembro de 2012, o programa chegou a quase 3 milhões de famílias rurais.
Tragicômico: Cai a toga
O ministro Marco Aurélio Mello esperou a cena final do julgamento do mensalão para buscar o destaque que julgava merecido e não lhe era atribuído. Assim, com o furor de “injustiçado”, montou um palanque imaginário e, sob o foco da televisão, tirou a toga e desnudou o objetivo político do voto que deu. Falou para eleitores do segundo turno das eleições municipais.
Ele atacou o “abandono de princípios e a perda de parâmetros” na última década no País. A década de Lula. Isso facilitou julgar o mensalão como o maior escândalo da República. O corte no tempo foi calculado. Em 1992, o primo dele, Fernando Collor, foi apeado da Presidência, com a participação intensa dos petistas, acusado de corrupção.
Collor deu a ele a cadeira no Supremo.
É explicável a retribuição. Ou Marco Aurélio não conhece a história do Brasil ou administra a memória em causa própria. Talvez por ambas, esqueceu-se das infâmias históricas orquestradas pela UDN (o PSDB de então) e executadas pela mídia em nome da moralidade. Foi o caso do “mar de lama” que, em 1954, levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio.
do blog do GILSONSAMPAIO


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