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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A represália é da Globo




Resposta ao UOL: a represália é da Globo por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador 

Fui procurado por e-mail, nessa terça-feira, pela jornalista Carla Neves – que se apresentou como repórter do UOL no Rio de Janeiro. Ela queria declarações minhas sobre o processo movido contra este blogueiro por Ali Kamel – diretor da Globo. 

Pedi que ela mandasse as perguntas por escrito. Não tenho motivos para desconfiar da colega jornalista, mas tenho todos os motivos para desconfiar das intenções do UOL – ligado ao grupo “Folha”. 

Por isso, e pelo teor de uma das perguntas, tomei a liberdade de publicar aqui a íntegra das respostas que estou enviando à jornalista. (Curiosidade: o TJ-RJ me condenou há três semanas, e naquele dia o UOL já havia registrado o fato. Só agora, o TJ-RJ publica um “release” com mais informações – que viram “gancho” para o UOL voltar ao tema… Hum. Cada um conclua o que quiser.) 

Abaixo, minha mensagem completa para o UOL. “Carla, seguem minhas respostas – 

Seu advogado vai recorrer da decisão? 

Sim, meus advogados vão recorrer da decisão, que considero injusta e equivocada. – 

O que você achou da conclusão do desembargador, especialmente do seguinte trecho: “A crítica, ao contrário da notícia, é o exame valorativo, o juízo de valor, positivo ou negativo, resultante da aplicação de uma reflexão sobre o fato noticiado. Em outras palavras, é o direito de opinião atrelado à informação jornalística, o qual permite aos órgãos de comunicação a valoração do objeto informativo, seja do ponto de vista científico, artístico, literário ou político, e a consequente emissão de opiniões, não estando o crítico, por isso, sujeito às ações civis ou criminais. Assim, pelo exercício do direito de crítica, possibilita-se ao emissor instituir relações entre os fatos noticiados e determinada interpretação ou juízo valorativo, favorável ou desfavorável, por ele formulado. A liberdade de crítica é uma liberdade natural. Contudo, criticar não é destruir, ofender, injuriar, difamar, violentar a dignidade alheia”? 

Considero que os desembargadores cometeram alguns equívocos. No entanto, mais importante que minha opinião sobre a decisão foi o que disseram, nos autos, dois especialistas em Comunicação: da UFRJ e da UFABC. 

Eles atestaram que meus textos eram opinativos, e refutaram essa idéia de “direito de opinião atrelado à informação jornalística”. Meus textos não eram “informativos”, nunca “informei” que Kamel (o diretor da Globo) fosse Kamel (o atôr pornô). Isso não me interessava. Se ele era ou não o ator pornô, não estava em questão pra mim. 

Utilizei a homonímia (Ali Kamel era o nome de um ator do filme “Solar das Taras Proibidas”; é o nome que aparece nos créditos do filme, e também na ficha do IMBD) como metáfora para criticar o papel de Kamel à frente do jornalismo da Globo. 

O Arnaldo Jabor, que trabalha sob as ordens de Kamel, escreveu um livro chamado “Pornopolítica”. 

Só a Globo pode usar metáforas? 

Importante: a juiza de primeira instância negou-se a ouvir especialistas em Comunicação ou testemunhas. E os desembargadores não fizeram sequer referência aos argumentos apresentados por esses especialistas, por escrito, nos autos. Na verdade, fui condenado por usar ironia e por usar metáforas para criticar Ali Kamel. 

 – Por que você foi dispensado do núcleo de jornalismo da Globo? O que escreveu seria uma represália? 

Curioso, Carla, você não me perguntar se o processo de Kamel poderia ser uma represália contra o que escrevo em meu blog. Permita-me dizer: sua premissa está equivocada. E ao “testar essa hipótese”, você me leva a imaginar quem, por acaso, pode ter “sugerido” que o UOL entrasse nesse assunto, e com esse enfoque. Não, Carla. Minha saída da Globo (em 2006) é que foi uma represália da emissora por meu posicionamento crítico à cobertura feita pela emissora. Na época, entrei na sala do diretor da Globo/SP, com outros colegas, e manifestei minha discordância com a cobertura que eu considerava (e considero) tendenciosa para beneficiar o candidato tucano em 2006. Não o fiz sozinho. 

Outros colegas que trabalhavam na Globo também se insurgiram, negando-se a aderir a um abaixo-assinado que a direção da Globo levou aos jornalistas, para que defendessem a cobertura eleitoral feita pela emissora. 

Coincidentemente, esses colegas que se insurgiram também tiveram que deixar a emissora logo depois. Não fui o único. 

O processo de Kamel, por sua vez, parece-me também uma represália contra o papel que um grupo de blogueiros passou a exercer no país, como contraponto ao jornalismo de bolinhas de papel comandado pela Globo. Não sou o único blogueiro processado por Ali Kamel. Há pelo menos outros cinco. 

Quase todos os processos foram abertos na mesma época, logo após a eleição de 2010 – em que a Globo e Kamel foram, de novo, derrotados pelos fatos e pelos eleitores. Acho que isso deixa claro quem está fazendo represália. Será que você perguntou a Kamel se esses processos todos contra blogueiros são uma represália? Quem sabe… Não tenho contra Ali Kamel nada do ponto de vista pessoal. Não há “rancor”, como Kamel tentou apresentar à Justiça do Rio. Há, sim, críticas e discordâncias profundas sobre a maneira de fazer Jornalismo, além de diferenças políticas insanáveis. 

O processo foi a forma que ele encontrou para judicializar um debate que é político. 

Se a idéia dele era intimidar, vai-se dar mal. 

Esses processos todos só tornam os blogueiros mais aguerridos. E nos trazem mais apoio de quem acompanha a guerrilha informativa travada, diariamente, na blogosfera e nas redes sociais. Por último, uma dúvida: de que forma um blogueiro que – nos momentos de maior audiência – não chega a 30 mil leitores/dia, poderia “destruir” a reputação do diretor da poderosa Rede Globo – como sugerem os ínclitos desembargadores? 

O sujeito dirige a TV Globo, tem influência sobre CBN, Globo News, G1, jornal O Globo… e um simples blogueiro incomoda tanto assim? Há algo de desproporcional nisso tudo. 

O Kamel deve ser um grande leitor dos blogs. Especialmente do meu. Agradeço a preferência.

do Blog do Briguilino

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