REGULAÇÃO DA MIDIA,JÁ!

REGULAÇÃO DA MIDIA,JÁ!
PARA ACABAR COM O MONOPÓLIO

domingo, 7 de abril de 2013

Joaquim Barbosa faz diferença?


O presidente do STF recebe um prêmio da Globo, o jornal que mais o submeteu a pressões à época do “mensalão” .Foto: Nelson Jr./SCO/STF
O presidente do STF recebe um prêmio da Globo, o jornal que mais o submeteu a pressões à época do “mensalão” .Foto: Nelson Jr./SCO/STF


Uma decepção profunda tomou conta de mim, dias atrás, ao ver o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, aparecer na tevê, como qualquer estrela do show business, para receber o Prêmio Faz Diferença, outorgado pelo jornal O Globo. 

Trata-se de condecoração muito badalada, graças à forca de propaganda do maior grupo editorial do País, e nem por isso se eleva acima de sua caraterística prosaicamente mundana. 

Em princípio, nada contra esses tipos de manifestações autocelebrativas aos quais, infelizmente, estamos quase completamente habituados: o marketing e a publicidade tanto penetraram nossas sociedades que são vividos pela maioria como aspectos fisiológicos da existência. 

Nenhum purismo, então, ante atrizes e cantores, cineastas e novelistas, donos de restaurantes e de produtos de beleza, que desfilam em passarela num teatro carioca e se orgulham pela “honra” recebida, porque é considerado normal, segundo a moral corrente, fazer uso de tais instrumentos e ser usados. 

O presidente do STF recebe um prêmio da Globo, o jornal que mais o submeteu a pressões à época do “mensalão” 

.Foto: Nelson Jr./SCO/STF 

Ao constatar, contudo, que certo appeal da mundanidade chegue até o chefe do Judiciário, uma das mais altas figuras institucionais do País, experimentei uma grave frustração. 

A meu ver, o presidente do Supremo, como símbolo personificado da Justiça, deveria manter o perfil público e privado mais equilibrado e sóbrio, de maneira ainda mais atenta que outras personalidades dos vértices do Estado. 

Ao contrário, também o presidente Joaquim Barbosa, ao receber o título de personalidade do ano, sentiu-se “honrado” como qualquer outro “famoso”. 

Estrela da festa, ele aceitou de bom grado o pacote completo oferecido pela Globo: melíflua apresentação de seus heroicos feitos no “histórico” julgamento do “mensalão”, entrevistas extemporâneas e banais, com direito a foto final de grupo ao lado de gente muito simpática, e ali o único fora do lugar era exatamente o presidente do Supremo. 

Em suma, o Sistema Globo fez o próprio trabalho: instrumentalizou a personagem, como melhor não poderia ter feito, para seus fins políticos e comerciais. 

Mas ele, o presidente do Supremo, se deu conta disso e aceitou a situação em plena consciência, ou foi simplesmente vítima da própria ingênua vaidade? 

Confesso que o comportamento recente de Joaquim Barbosa na sociedade, inadequado sob certos aspectos, também cria em mim não poucos problemas de coerência pessoal: por ter sempre declarado meu respeito ao Supremo, já tive sérias divergências durante o processo do chamado “mensalão”. 

Respeito justificado inclusive pelo fato de que o Tribunal resulta integrado por 9 entre 11 juízes, nomeados por presidentes de muito prestígio internacional, como Lula e Dilma. 

E se uma sólida maioria destes, Barbosa à frente, chegou a condenar réus que militam na área política dos dois presidentes, causando inevitavelmente desagrado para ambos, esta foi para mim boa demonstração da validade das escolhas feitas. 

E da real independência do Poder Judiciário em relação ao Executivo, como há de ser em um regime democrático. 

Sem entrar nas polêmicas que se deram à época do “mensalão”, quero sublinhar minha convicção que efetivamente ocorreu entre 2003 e 2005 um fenômeno grave de corrupção política – não mensal, mas seguramente continuativa –, no relacionamento entre Executivo e Legislativo, fora da ética republicana e das leis. 

Portanto, me perguntei, então, se seria fundamentada a acusação aos juízes do Supremo de serem vítimas de um irresistível condicionamento midiático. 

Não quero afirmar, em todo caso, que tal bombardeio não existiu: muito pelo contrário, a pressão da imprensa conservadora foi mórbida e irrespeitosa do trabalho do Judiciário. 

As fanfarras da mis-en-scène carioca celebram Barbosa e eu fico perplexo por ele considerar significativo tal reconhecimento ostentado pelo O Globo, o jornal que se distinguiu como o mais aceso e parcial dos torcedores. 

Tal promiscuidade, com o agravo da inoportuna atração mundana, faz correr a Barbosa um grave risco, que não é só de estilo, mas, sobretudo, de respeitabilidade diante do País e da comunidade internacional.

por Claudio Bernabucci

de CartaCapital

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por respeitar este espaço livre e democrático e por comentar!