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terça-feira, 21 de maio de 2013

Novela da Globo é igual a Globo, só tem desinformação


Cláudia Collucci 

Novela começa errando 

DE SÃO PAULO 

Grávida de risco, Luana (Gabriela Duarte) dá entrada na maternidade com uma crise hipertensiva, sofre uma parada cardíaca e morre durante o trabalho de parto. 

O bebê já nasce morto. Para o público leigo, só mais uma cena comovente no capítulo de estreia de "Amor à Vida" (Globo). Para os médicos, motivo de irritação em razão dos erros primários cometidos na trama no que diz respeito à ressuscitação cardiopulmonar (RCP) feita em Luana. 

Com a palavra, Sergio Timerman, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia e do InCor (Instituto do Coração): 

"Eles retrataram um procedimento completamente fora dos padrões. Uma grávida em trabalho de parto, subitamente apresenta parada cardíaca em assistolia (coração totalmente parado), vista pelo monitor. 

Nessas condições, dizemos que se trata de um ritmo não chocável, ou seja, o desfibrilador não deve ser usado. 

Na trama, segundo Timerman, foram iniciadas as manobras de RCP de maneira e posição erradas. 

Em seguida, com o coração parado, a médica realiza a primeira desfibrilação sem conseguir com isso retomar a circulação espontânea. 

Depois, comete um outro erro quando pede para aumentar a carga do choque e submete a paciente a uma segunda desfibrilação, ainda com o coração parado. 

"Definitivamente, foi uma grande desinformação e longe de quaisquer diretrizes. Paracardíaca em assistolia, ou seja, com o coração totalmente parado, requer avaliação das causas principais da mesma, início imediato de compressões cardíacas e, como estava em ambiente hospitalar, com dispositivos de respiração e medicamentos específicos para o caso. 

A desfibrilação, nesse caso, não é recomendada." Segundo ele, em caso de necessidade de desfibrilação, as diretrizes brasileiras de 2013 recomendam um mesmo choque sempre em carga máxima do equipamento, jamais em descarga escalonada como aconteceu na novela. 

"Quando foi declarada a morte da mulher, estava correta a tentativa de salvar o bebê." Para o médico, distorções de como realizar a RCP só servem para desinformar o público e levar pacientes ou familiares a optarem pela reanimação em situações em que a sobrevivência é improvável. 

Em geral, as pessoas aprendem sobre RCP por meio de muitas fontes, incluindo médicos, familiares e amigos, experiência pessoal e cursos de ressuscitação. 

Em uma série de estudos, no entanto, os pacientes relatam que obtêm grande parte de sua informação pela mídia. 

Por exemplo, pesquisadores descobriram que 92% dos pacientes com mais de 60 anos de idade obtém informações sobre RCP da televisão, 82% dos jornais, e 72% de livros. 

Além disso, eles costumam superestimar a probabilidade de sobrevivência após a ressuscitação. 

O que deveria ser feito? 

"Dada a extraordinária influência da mídia, poderíamos esperar que os produtores de programas desta novela e de outros programas de televisão reconhecessem a responsabilidade da informação e procurassem a sociedade médicas para traduzir o correto tratamento a ser aplicado", diz Timerman. Recado dado. 

Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site. 

Postado por Helio Borba

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