MC BRITTNEY E BONDE DAS MARAVILHAS - O "funk carioca" sempre apostou na glamourização da pobreza e agora vai mais longe nisso. |
Seja ele "melody" ou "proibidão", "de raiz" ou "comercial", o "funk carioca" representa a glamourização da pobreza que volta e meia sofre uma onda de "adesões" de neocons ou até mesmo das esquerdas médias com algum coração mole inclinado ao paternalismo.
O "funk carioca" tornou-se o maior motivo da recente onda de paternalismo existente entre intelectuais, artistas, celebridades, autoridades e empresários.
Esse apoio todo das elites, sobretudo a partir da imagem de "coitadinho" que normalmente se trabalha em relação ao "funk" pela grande mídia, mostra o quanto o "funk carioca" é elitista, higienista e asséptico.
O "funk carioca" é uma das primeiras amostras do "preconceito do bem" de gente que se autocelebra "sem preconceitos".
Seu poder de glamourizar a miséria e a pobreza, em alguns momentos alimentando "polêmica" em ocorrências policiais, em outros tentando o sucesso em redutos de lazer das classes mais abastadas, é bastante notório.
Hoje mesmo, só nas Organizações Globo, o "funk carioca" esteve na "pauta" várias vezes.
O popularesco jornal carioca Expresso, com a manchete "Funk virou Passarela", cita agora as novas MCs "bonitinhas" do gênero, como MC Pocahontas.
No mesmo caminho, o jornal O Globo fala de um "funk light", citando a própria MC Pocahontas, além de outras, como MC Brunninha, MC Britney e os festejados MC Federado e Os Lelekes.
Há também Caetano Veloso escrevendo, no Segundo Caderno, que ouve "funk" junto com um de seus filhos, e a atriz Letícia Sabatella dizendo no jornal Extra (também das OG) que "adoraria" gravar um "funk" na novela Sangue Bom, produção da Rede Globo que corteja o gênero.
O "funk carioca" é capaz de unir os desafetos Caetano Veloso e Lobão numa mesma trilha sonora.
O ex-baterista do Vímana e ícone do Rock Brasil, hoje convertido num neocon furioso, vê no "funk carioca" o único consolo para sua raiva contra as transformações sociais do país.
E nunca o "funk carioca" tornou-se tão queridinho da grande mídia, em especial Organizações Globo e Grupo Folha.
A reportagem de O Globo, intitulada "O pancadão da classe média", cita como "novidades" o sucesso do "funk carioca" em programas como Caldeirão do Huck e TV Xuxa. Isso é chover no molhado.
Afinal, os dois programas já divulgaram o ritmo desde quando se propagou, há dez anos atrás, toda a choradeira intelectual em defesa do ritmo.
IMAGEM CONSTRUÍDA, CONSENSO FABRICADO E ESCRAVIDÃO
E por que as elites cortejam tanto o "funk carioca"?
A hipótese de paternalismo é a mais provável, até porque o estilo nada tem, na verdade, da suposta vanguarda que oficialmente se atribui ao gênero, a ponto de muitos apostarem no resgate da carioquice perdida através do tal "funk light", que vai a reboque dos novos medalhões MC Naldo e MC Anitta.
O "funk carioca" teve esse discurso "socializante" construído para "melhorar" a imagem do gênero, e o establishment do direitismo midiático, sejam as Organizações Globo, os grupos Folha e Abril, o antropólogo Hermano Vianna atrelado à Globo, ao tucanato acadêmico e à Fundação Ford (instituição ligada à CIA, agência de informações do governo dos EUA), desenvolveram esse discurso usando dos mais diversos tipos de linguagem.
A partir disso, a "boa sociedade" passou a apoiar abertamente o "funk carioca", lembrando os fidalgos que defenderam a escravidão no século XIX.
Os motivos tornam-se exatamente os mesmos, e da imagem construída do "funk carioca", se fabrica um consenso entre as elites que apoiam o gênero.
Afinal, assim como a antiga escravidão, o "funk carioca" é defendido pela sociedade porque deixa as classes populares, de acordo com a ótica elitista, "mais tranquilas".
Seria um meio de frear as inquietações sociais.
E se essa visão, no tempo do Império, contagiava alguns semi-iluministas brasileiros - como as elites da Inconfidência Mineira - , hoje o mesmo acontece com as esquerdas médias.
Há um julgamento de valor elitista, que contagia de socialites até cientistas sociais, que cria uma visão idealizada do povo pobre, mais domesticada, asséptica e por demais risonha.
As elites sonham sempre em ver os pobres felizes mesmo dentro de suas limitações. E isso faz com que o "funk carioca" se encaixe nesse paternalismo, nesse elitismo cordial que prefere ver a população pobre domesticada.
POBREZA "LINDA"
A visão chega a ser pior do que aquela que se atribuía às elites que fizeram os Centros Populares de Cultura da UNE e o Cinema Novo.
Acusava-se seus membros, nos idos dos anos 60 e 70 (quando os CPCs já estavam extintos e o cinema brasileiro trocou o CN pela pornochanchada), de dirigismo ideológico, de idealização da cultura popular e de apologia à miséria.
Naqueles tempos, era comum, nas universidades ou mesmo na imprensa cultural, fazer gozação com os cepecistas e cinemanovistas dizendo que eles achavam a pobreza "uma coisa linda", uma glamourização do subdesenvolvimento que o cineasta convertido em colunista de jornais, um Arnaldo Jabor (ex-cepecista e ex-cinemanovista) pouco antes de sua febre neocon, escrevia em seus artigos.
Hoje o contexto é completamente outro, mas o sentimento elitista de que "ser pobre é lindo" que contagia nas defesas do "funk carioca", do brega e de seus derivados.
A pobreza e a miséria, assim como "atividades" relacionadas como a prostituição, o alcoolismo e o comércio de produtos clandestinos, são condições provisórias e nada agradáveis, mas as elites as veem como "virtudes" permanentes.
Sim, isso mesmo.
Existe até "sindicatos" para prender as prostitutas no comércio do corpo. As desculpas intelectualoides tentam misturar o joio e o trigo e atribuir ao infeliz comércio de prostitutas que poderiam ter outros empregos mais dignos a mesma "expressão do corpo" que movimentos teatrais de vanguarda expressam.
Tentam creditar a retaguarda brega como "vanguarda", e tudo é festa nos espaços da grande mídia quando celebridades, intelectuais e outras personalidades julgam que "o funk é lindo".
Da mesma forma, acham que a prostituição é linda, o subemprego é maravilhoso, o alcoolismo é a maior diversão - não é preciso dizer que há intelectuais que também tomam porre - e ser "lelek" é melhor do que ser bem alfabetizado.
As elites, com o "funk carioca", não precisam dizer que são contra a reforma agrária, a regulação da mídia e o método Paulo Freire.
Disfarçam seus preconceitos sociais por um paternalismo cordial que julgam "desprovido de preconceitos".
O "funk carioca" não é arte nem cultura: é apenas comércio, marketing e valores retrógrados, além de ser um processo típico de glamourização da miséria.
Com o "funk carioca", as elites dão um jeito para disfarçar seu elitismo de todas as formas.
Com todo o seu dirigismo ideológico, sua idealização da cultura popular e apologia à miséria que têm direito, mas evitam assumir.
De qualquer forma, para os defensores e adeptos do "funk carioca", a pobreza também é "linda".
Coitados dos pobres.
Postado por Alexfig
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