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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Por que o STF pagou a viagem da jornalista do Globo

Do Diário do Centro do Mundo - 7 de maio de 2013 

A resposta é simples: para que fossem publicadas reportagens positivas sobre Joaquim Barbosa. 
JB entre o diretor do Globo e João Roberto Marinho de óculos) numa premiação: proximidade indevida
JB entre o diretor do Globo e João Roberto Marinho de óculos) numa premiação: proximidade indevida 

Paulo Nogueira 




O que leva alguém a pagar uma viagem para jornalistas? 

O leitor pode se fazer essa pergunta, depois de saber que uma jornalista do Globo viajou para a Costa Rica ‘a convite’ do Supremo, para cobrir falas de Joaquim Barbosa. 

A melhor resposta é a mais simples: você paga porque deseja aparecer. Você quer que sejam publicadas reportagens sobre você. E como você pagou, está compreendido que a cobertura será positiva. 

O STF queria, portanto, que o Globo fizesse textos sobre Joaquim Barbosa que, no fundo, seriam muito mais publicidade do que jornalismo. 

O problema aí é o seguinte: qual o interesse público que justifica o STF gastar dinheiro do contribuinte numa operação destinada a engrandecer apenas e apenas Joaquim Barbosa? Nenhum. 

Mais do que as cifras envolvidas, o que chama a atenção é a atitude das duas partes: o STF por ter “convidado” e o Globo por ter aceito. Está claro que o que moveu Barbosa foi a vaidade. 

Teria ele se viciado em aparecer no noticiário, vencido pelo deslumbramento? É uma possibilidade. 

Se Brian Leveson, o discreto juiz que comandou as discussões sobre a mídia na Inglaterra, fizesse algo parecido – não faria, vamos logo dizendo – sua carreira estaria automaticamente liquidada. 

A organização jornalística que fizesse o que o Globo fez cairia em completo descrédito, também. 

O interesse público ordena que os poderes — a mídia incluída — mantenham distância rigorosa, por razões óbvias: eles devem se fiscalizar uns aos outros. 

Em nome da transparência, a mídia deveria investigar e publicar qual é o orçamento do STF. 

De quanto dispõe para despesas como aquelas relativas à viagem? É dinheiro do contribuinte. 

Mas quando existe proximidade isso jamais acontece. 

Na grande frase de Pulitzer, um dos maiores editores da história do jornalismo, “jornalista não tem amigo”

No Brasil é diferente, e é uma pena. 

Você vê o ministro Gilmar Mendes confraternizando – à luz do dia – com jornalistas como Reinaldo Azevedo. (Aquele que escreveu, contrito, que Maggie Thatcher morreu “pobre”, com sua casa em Londres avaliada em 13 milhões de libras.) 

Você vê o jornalista Merval Pereira acertando um prefácio – abjetamente bajulador — de um livro com o ministro Ayres Brito em pleno julgamento do mensalão. E depois somos obrigados a vê-los lado a lado em sessões de lançamento do livro. 

Isso tem um nome: corrupção nos costumes. 

Dias atrás, jantei com um amigo, brilhante jornalista, e ele me contou uma história exemplar. 

Seu pai, nos anos 1940 e 1950, foi juiz. Com frequência, recebia telefonemas de advogados que queriam marcar uma conversa. Jamais ele aceitou. Repito: jamais. 

“Quer conversar? Muito bem. Então vamos marcar uma conversa no Fórum, diante do escrivão”, dizia o juiz. 

Não era exatamente este tipo de conversa que eles procuravam, naturalmente. Mas é assim que um juiz deve se comportar. 

Semanas atrás, os brasileiros souberam que um advogado estava prestes a pagar um superfesta de aniversário para Luiz Fux, do Supremo. 

                                   Perdemos a noção? 
Merval, Gilmar Mendes e Ayres Brito: essa proximidade não é nada boa para o interesse público
Merval, Gilmar Mendes e Ayres Brito: essa proximidade não é nada boa para o interesse público 

O Diário confia em que vai chegar o dia em que a sociedade olhará para essas coisas e se perguntará: como toleramos tudo isso, como aceitamos todos esses insultos? Considere o interesse público. 

Imagine que vá dar no STF uma disputa bilionária entre a Globo e a Receita Federal. 

Que isenção o “Zé do Povo” — para empregar a expressão reveladora usada pelo patriarca do Globo, Irineu Marinho — pode esperar dos juízes do Supremo? 

Foi com imensa satisfação que nós, do Diário, vimos a repercussão do texto sobre a viagem patrocinada pelo STF. 

No momento em que escrevo, são quase 6 000 likes e 500 compartilhamentos no Facebook e 515 retuítes. 

Fora do Diário, o artigo foi reproduzido em todos os sites relevantes do Brasil. 

Isso é auspicioso por uma razão: mostra que a capacidade de indignação do brasileiro não está adormecida. E este é o primeiro passo para que as coisas mudem. . . 

Paulo Nogueira. Jornalista baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

do BLOG DO SARAIVA

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