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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Galeano: Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa.


Via Rebelión 

“A velha Europa, tão capaz de beleza e perversidade, derrama uma que outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada de mestre. Por que a caça aos judeus sempre foi um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas, e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão pagando, em sangue corrente e soante, uma conta alheia.” 

Eduardo Galeano 

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti 

El Correo 

Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que essa carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los. Desde 1948 os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem respirar sem licença. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer tem direito de eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Transformou-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamás ganhou limpamente as eleições no ano de 2006. Coisa parecida tinha acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. 

Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os mísseis caseiros que militantes dos Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria, sobre terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto que a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina. E pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa. 

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balam sacralizam os despojos, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polonia para impedir que a Polonia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para impedir que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel tem engolido outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. A devora se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que os palestinos à espreita geram. Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções da ONU, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que zomba das leis internacionais, e também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.  
Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança em Gaza? O governo espanhol não pôde bombardear impunemente o país basco para acabar com a ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar com o IRA. Por acaso, a tragédia do Holocausto significa uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde vem da potência que manda mais e que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos? O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. 

Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas do esquartejamento humano que a tecnologia militar está ensaiando com êxito nessa operação de limpeza étnica. E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte o outro bombardeio, por conta dos meios de manipulação em massa, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. Esses meios nos convidam também a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki. 

A chamada comunidade internacional ... ela existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreadores? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se dão quando fazem teatro? Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declarações mais ressonantes e as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade. Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. 

A velha Europa, tão capaz de beleza e perversidade, derrama uma que outra lágrima enquanto secretamente celebra essa jogada de mestre. Por que a caça aos judeus sempre foi um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada aos palestinos, que também são semitas, e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão pagando, em sangue corrente e soante, uma conta alheia. 

(Esta artigo está dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou)

POSTADO POR GILSONSAMPAIO

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