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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Jornais nem sempre representam o bom jornalismo

“Alguém imagina o que seria do Brasil sem a presença do jornalismo independente?”
A surpreendente pergunta foi veiculada por Carlos Alberto Di Franco no espaço que lhe é reservado nas páginas de opinião do Globo e do Estado de S.Paulo, na segunda (13/4).
A proposição nos remete obrigatoriamente à primeira manifestação de jornalismo independente, quando começou a circular num território silenciado por férreos controles o primeiro periódico sem censura, o Correio Braziliense (junho,1808).
Apenas 14 anos depois, aquela gente que os colonizadores tratavam como estúpida, inculta, e ao longo de 308 anos mantiveram alheia à busca do conhecimento e desprovida de qualquer consciência autonômica, proclamava a sua independência.
No final do texto, empolgado, o autor esquece que tratava de jornalismo independente e proclama: “Os jornais têm futuro. E o Brasil precisa deles”.
Quem disse ao eminente comissário midiático do Opus Dei que jornais e jornalismo independente são noções necessariamente convergentes, associadas e complementares? 
Jornais e revistas são importantes, têm futuro, especialmente os impressos. Mas quem está abreviando sua existência e solapando sua importância são as doutrinas e a arrogância daqueles que os comandam.
Nos últimos dias tivemos pelos menos três clamorosas evidências do distanciamento entre jornais e jornalismo independente:
Há seis meses Barack Obama era ferozmente atacado, hoje…
Quando deixou de ser apenas uma curiosidade (o primeiro negro a ser levado à Casa Branca) e mostrou-se muito mais do que um líder carismático, pois representava um pensamento político articulado, coerente, começou a declinar a aceitação de Obama pela mídia brasileira.
Com o fortalecimento do Tea Party e do seu fanatismo contra políticas públicas e qualquer ação social do Estado, nossa mídia guardou a fantasia de liberal e Obama transformou-se no saco de pancadas preferido de um time de colunistas vestido com o uniforme das tropas de assalto da extrema-direita. 
Como nossos leitores não têm acesso à mídia liberal americana, os abusos e manipulações do noticiário foram vergonhosos – Globo à frente.
A cruzada anti-Obama chegou ao auge em seguida à derrota nas eleições intermediárias do segundo mandato (novembro, 2014), quando os democratas que já haviam perdido o controle da Câmara dos Representantes acabaram sem a pequena maioria do Senado. As manchetes mencionavam “humilhação” e a imagem saxônica do “pato-manco” (lame duck) tornou-se familiar para o leitor brasileiro.
Seis meses depois, eis Barack Obama comandando dois espetaculares triunfos políticos com uma diferença de poucos dias: o acordo nuclear com os iranianos, depois de 36 anos de beligerância, e o acordo com Cuba, encerrando definitivamente o capítulo da Guerra Fria na América Latina. Pouco antes, Washington e Pequim anunciaram um inesperado pacto para diminuir as emissões de gases de efeito-estufa.
Na capa da última edição de Época (13/4) o oba-oba obamista foi representada por um busto do presidente americano é um título fortíssimo: “Um presidente para a posteridade”.
Pesquisas de opinião não devem ser usadas para forçar acontecimentos, mas…
As manifestações de protesto do domingo (12/4) estavam marcadas há algumas semanas. Na realidade, imediatamente depois das passeatas de 15 de março. A nova sondagem do Datafolha sobre a popularidade da presidente da República, apoio ao impeachment e questões correlatas foi realizada nos dias 9 e 10 de abril (quinta e sexta). Os resultados poderiam ser publicados na segunda (13) ou terça (14/4), mas o alto comando do Grupo Folha preferiu soltá-los no domingo. Claro, com a tiragem maior a repercussão seria tremenda.
Mas houve quem achasse que a divulgação de resultados favoráveis ao impeachment na manhã do dia em que o país inteiro preparava-se para ir às ruas e gritar “Fora Dilma” poderia ser tomada como provocação golpista.
Folha de S.Paulo não tem este tipo de preocupação: publicou em manchete de capa que a reprovação a Dilma estacionou (entre 60% e 62%, um dos piores patamares da última década) enquanto a mesma proporção apoia a abertura de um processo de impeachment. Além das três páginas com análises dos resultados da sondagem, uma terceira (A-8, inteira), em formato de infográfico, com um “tudo sobre” para explicar o que é, como se inicia e como termina um processo de impedimento do chefe do governo.
Os resultados da sondagem foram comentadíssimos nos telejornais, radiojornais e portais de notícias na manhã de domingo, quando se preparavam para cobrir as manifestações daquela tarde.
Coincidência ou jogada ensaiada? 
Folha parecia curada da pesquisite crônica, quando costumava usar as sondagens do Datafolha para reforçar suas coberturas e/ou posições. Teve uma recaída.
Zelotes: um vazamento que ninguém pretende explorar

Em 27 e 28 de março, o Estado de S.Paulo revelou os primeiros contornos do megaescândalo do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) – no qual, além de grandes bancos, montadoras e frigoríficos, era citado um dos mais importantes grupos de comunicação do país.
Visivelmente relutantes, Folha e Globo foram atrás sem citar todos os grupos envolvidos nem todos os montantes subtraídos do erário sob a forma propinas ou taxa de sucesso a grandes escritórios de advocacia tributária.
Só no domingo (5/4) a ombudsman da Folha entrou no assunto, assim também o colunista Elio Gaspari (Globo e Folha). O respeitável Valor Econômico, embora cobrado antes nesteObservatório, só se animou a encarar a mãe de todos os escândalos na terça-feira (7/4), isto é,12 dias depois da primeira notícia. O mais importante jornal de economia e negócios do país, que pertence em partes iguais ao Globo e à Folha, preferiu manter-se distante do primeiro escândalo protagonizado apenas por empresas e funcionários corruptos, com participação mínima de políticos e de partidos (a exceção é novamente o PP).
A glorificação dos jornais só é legítima quando se dispõem a compartilhar um compromisso pluralista, diversificado, capaz de evitar abusos e garantir o contraditório. 
A história dos jornais só pode confundir-se com a história da imprensa quando jornalistas independentes puderem praticar livremente o jornalismo independente.

do Observatório da Imprensa

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