O que eles têm em comum?
Bertoni, via Paraná Blogs
À primeira vista, o Vaticano, o fim do socialismo soviético e a privataria tucana nada têm em comum e são considerados, por alguns, fenômenos “isolados” no tempo e no espaço.
Porém, três livros publicados nos últimos 18 meses, Vaticano S.A. (Gianluigi Nuzzi, Larousse, 2010), Economia Bandida (Loretta Napoleoni, Difel, 2010) e A Privataria Tucana (Amaury Ribeiro Jr., Geração Editorial, 2011) mostram que os três “fenômenos” têm em comum o modus operandis neoliberal de desvio criminoso de dinheiro público, sempre lavados por empresas ou bancos off-shores, e seu investimento em negócios legais ou espúrios, fazendo com que de uma forma ou de outra a grana desviada volte aos corruptos e corruptores na qualidade de dinheiro limpo, legalizado no sistema bancário-financeiro internacional.
A lavanderia do Vaticano, através de seu Instituto para Obras Religiosas (IOR), também conhecido como Banco do Vaticano, pode ser considerada a mais antiga encravada na Europa continental, bem no centro de Roma.
Os esquemas relatados no livro de Gianluigi Nuzzi remontam ao papado de Paulo 6º e conta como a grana ilegal de políticos, empresários e bispos de vários países eram legalizados pela off-shore IOR, ou seja, Banco do Vaticano.
Baseado no arquivo secreto do monsenhor Renato Dodozzi, morto em 2003,Vaticano S.A. revela escândalos políticos e financeiros da maior instituição religiosa do mundo: a Igreja Católica Apostólica Romana.
O imenso arquivo do Monsenhor Dodozzi, que trabalhou no IOR, guardado na Suíça até a sua morte e hoje acessível a todos, revela uma verdadeira e própria “lavanderia de dinheiro” no centro de Roma, utilizada também pela máfia e por inescrupulosos aventureiros políticos.
Um paraíso fiscal que não se submete a nenhuma legislação, a não ser às sacras leis do Estado do Vaticano.
O livro mostra também como fundos “pessoais” do papa João Paulo 2º foram usados para financiar o sindicato polonês Solidariedade contra o regime socialista soviético.
Economia Bandida chegou ao Brasil após lançamentos de sucesso na América do Norte e Central, Europa e Ásia. Nele, Loretta Napoleoni disseca a extensa rede de ilegalidade existente no planeta – da indústria do sexo na Europa Oriental à rede chinesa de pornografia on-line, passando pela comercialização do Viagra e pelo tráfico de diamantes na África.
Não é um livro sobre as origens obscuras dos produtos que consumimos nem sobre as mentiras das campanhas publicitárias dos propagandistas da eterna juventude. Tampouco se trata de um manual antiglobalização ou de um manifesto pela revolução do consumidor.
Mostra o que há de comum entre o próspero comércio sexual do Leste Europeu, o escândalo dos empréstimos hipotecários podres nos Estados Unidos, a indústria chinesa de produtos falsificados e a filantropia das celebridades na África.
Descreve como biopiratas exploram a indústria do sangue, como os bandidos da pesca devastam os altos-mares, como a pornografia se desenvolve virtualmente no Second Life e como jogos como o World of Warcraft geram “suadouros” on-line, levando-nos a concluir que as indústrias bandidas estão se transformando em impérios globais e tornando-se regra descarada do sistema capitalista que antigamente procurava disfarçar-se sob negócios tidos como legais.
Apresenta, enfim, como o mundo vem sendo remodelado por forças econômicas obscuras que vitimam milhares de pessoas comuns cujas vidas foram aprisionadas na fantasia do consumismo mundial. Napoleoni revela a arquitetura de nosso mundo.
Por sua vez, A Privataria Tucana nos traz a arquitetura de nosso Brasil “moderno” e, de maneira chocante e até decepcionante, relata a dura realidade dos bastidores da política e do empresariado brasileiro, em conluio para roubar dinheiro público.
Faz uma denúncia vigorosa do que foi a chamada “Era das Privatizações”, instaurada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e por seu então ministro do Planejamento, José Serra. Nomes, até agora blindados pela aura da honestidade e pela imprensa nacional, surgirão manchados pela descoberta de seus malfeitos.
O livro traz os documentos secretos e a verdade sobre o maior assalto ao patrimônio público brasileiro e o trânsito de fortunas tucanas até os paraísos fiscais.
O leitor perceberá que nas três publicações citadas tudo é sagrado, desde que garanta aos neoliberais e a seus operadores os maiores, mais fáceis e rápidos lucros possíveis, pouco importando a origem ou legalidade das operações em que eles se envolvam.
Interesses e direitos humanos, nacionais, religiosos, políticos, econômicos, sociais ou populares são descaradamente atropelados em nome da rápida e absurda concentração de renda e riquezas do vale-tudo do tudo pelo capital.
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