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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um diálogo que ensina como agem os jornalistas


Um diálogo que ensina como agem os jornalistas
Cenas de realismo fantástico: (1) Policarpo pergunta a Cachoeira, sócio da Delta, se foi José Dirceu quem colocou a empreiteira em Brasília. (2) Cachoeira nega veemente. (3) Em seguida, Veja publica que o ex-ministro da Casa Civil é o “segredo do sucesso” da construtora

247 – Acaba de ser garimpado mais um diálogo surpreendente da Operação Monte Carlo, que revela a influência da quadrilha de Carlos Cachoeira sobre a imprensa e também como funciona a cabeça de um jornalista. 


Deve-se o furo ao repórter Vinícius Mansur, da Carta Maior, cuja descoberta foi também repercutida pelo blogueiro Altamiro Borges (leia mais aqui). 


O diálogo se dá entre Carlos Cachoeira e Claudio Abreu, diretor da Delta no Centro-Oeste. 


Na íntegra, a conversa enfraquece – e muito – as teses de que a revista Veja agia apenas em defesa do interesse público, como argumenta seu diretor Eurípedes Alcântara num código de ética publicado na internet, e de que desconhecia estar sendo usada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. 


O diálogo poderia até compor uma peça de realismo fantástico.


Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Veja em Brasília, procura Cachoeira, sócio oculto (para a torcida do Flamengo, mas, talvez, não para Veja) da Delta, com uma tese: a de que a empreiteira havia entrado no Distrito Federal, ainda no governo de José Roberto Arruda, ex-DEM, graças à influência de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Policarpo desconfiava até de um encontro em Itajubá, cidade onde nasceu Arruda e onde vive a mãe de José Dirceu, no qual teriam sido entregues malas de dinheiro. 


Uma aliança, digamos, capitalista entre DEM e PT.  


Cachoeira – repita-se, sócio oculto da Delta – a quem não foi feita nenhuma pergunta sobre a entrada da empreiteira em Goiás, negou tudo veementemente. 


E mesmo tendo recebido uma negativa de sua principal fonte, Veja seguiu adiante e publicou uma reportagem sobre o crescimento alucinante da Delta, creditando à influência de José Dirceu o “segredo do seu sucesso”. 


Antes da publicação, Cachoeira e o senador Demóstenes demonstraram certa preocupação com a reportagem que sairia em conversas também interceptadas pela Polícia Federal. 


Os grampos relacionados a isso foram usados por Reinaldo Azevedo como a prova cabal da independência jornalística de Veja em relação ao bicheiro. Sim, até certo ponto. 


Mas, em outro grampo, o sargento Dadá, braço direito de Cachoeira, fala de um encontro com outro jornalista de Veja, Hugo Marques, em que este o tranquiliza e diz que seu alvo era Dirceu e não a Delta. O que isso demonstra? 


É um indício de que a revista tinha pleno conhecimento de que Cachoeira, Dadá e associados faziam, sim, parte de uma mesma engrenagem: a Construtora Delta. 


Pois foi a eles que Veja recorreu para buscar informações sobre a entrada da empreiteira em Brasília. E foi a eles também que a revista transmitiu mensagens tranquilizadoras sobre a reportagem que sairia no fim de semana. 


A Delta sofreu algum dano? Sim, um dano colateral. O que revela que a ligação de Veja em relação à turma não era tão forte quanto a inimizade ou a obsessão da revista em relação a José Dirceu. 


Assim funcionam os jornalistas. 


As relações com as fontes muitas vezes envolvem algum tipo de proteção, mas nem sempre uma proteção absoluta.


do Blog Ficha Corrida

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